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Uso da cannabis em animais

As pesquisas com cannabis apresentam resultados positivos para tratamento dos animais

 

O uso da cannabis em animais tem sido cada vez mais indicada pelo(a)s veterinário(a)s. Os benefícios da planta asseguram melhora da qualidade de vida para os bichinhos no tratamento de uma série de patologias.

Curiosamente dos animais vertebrados aos invertebrados, todos eles possuem o sistema endocanabinóide que se liga aos fitocannabinoides presentes na planta, como num esquema de chave e fechadura, e traz respostas positivas para o tratamento de diversas doenças, pois promove o equilíbrio homeostático do corpo. 

“Indicamos o uso da cannabis podendo variar nas porcentagens de CBD e THC como analgésico, regulação da temperatura corporal, da pressão sanguínea, entre muitas outras aplicações. Ela tem efeitos neuroprotetores, anti-inflamatórios, anticonvulsivo, antitumoral, ansiolítico, regulador de humor, sono e apetite. A cannabis age de maneira sistêmica no organismo dos animais, principalmente dos vertebrados, que é onde se concentram os estudos”, explica a Médica Veterinária da Linha Integrativa, Carolina Nogueira.

arquivos da internet

Patologias tratáveis com cannabis

  • Infeções fúngicas, bacterianas, virais
  • Dor crônica e/ou neuropática
  • Crises epilépticas
  • Processo de cicatrização
  • Distúrbios do trato gastrointestinal, como disbiose
  • Transtornos mentais
  • Transtorno de ansiedade
  • Situações estresse
  • Traumas físicos ou “psicológicos”
  • Problemas dermatológicos.
  • Doenças autoimunes

“Eu e meu filho já fazemos o uso da cannabis como via tratamento. Quando meus cachorros começaram a ficar doentes não exitei em seguir com a cannabis e os resultados foram super positivos. Sempre estimulo as pessoas a procurarem profissionais que possam acompanhar e prescrever.”, relata Adrienne Rodrigues.

 

As pesquisas na área veterinária

Uma das lideranças no campo da pesquisa e na luta ativa para regulamentar o uso da cannabis pelo(a)s veterinário(a)s é o professor e pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) no curso de medicina veterinária, Erik  Amazonas. 

Em 2016, ele começou a estudar os mecanismos fisiológicos por trás dos tratamentos com cannabinoides em humanos. Como geneticista, era acreditava que se os humanos possuem um sistema endocanabinoide  os demais animais também o teriam e portanto, o mesmo uso medicinal se aplicaria a eles, mas era preciso comprovar.

 “Bastou uma rápida pesquisa para ver que a ciência já tinha essa informação desde a década de 1990 e que esse sistema fisiológico foi ignorado durante toda minha graduação, mestrado e doutorado. Como docente em um curso de medicina veterinária me vi obrigado a estudar a fundo o sistema endocannabinoide para poder compartilhar esse conteúdo com os futuros veterinários”, relata o professor. 

Em 2018 ele conseguiu criar a disciplina de endocanabinologia no curso de Medicina Veterinária da UFSC.

A caminho da legalidade

Ainda que os benefícios do uso da cannabis em bichos estejam comprovados, hoje o profissional da área está atuando e indicando a terapia com canabinóides sem uma regulamentação.

 “A indicação é feita sem uma lei que a proíba, que autorize ou que regulamente o uso da maconha medicinal. Isso porque o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) não possuem diretrizes de uso para esse tipo de medicamento. E é neste limbo legislativo e jurídico que os profissionais em saúde animal têm atuado”, desabafa a veterinária Carolina.

Pensando em levar a pauta do uso da cannabis medicinal no campo veterinário, o professor Erik fez uma sugestão legislativa em dezembro de 2019 para levar ao Senado Federal essa discussão.

“Foi justamente pela falta de qualquer tipo de menção no MAPA ao uso de cannabinóides na Medicina Veterinária que os veterinários estão sem saber o que fazer. Uma parte acha que é ilegal, outra parte, como aqui no Conselho Regional de Medicina Veterinária de Santa Catarina, entende que não há ilegalidade por várias razões. O próprio código de ética, que tem como dever lançar mão de tudo que estiver ao nosso alcance para aliviar o sofrimento e elevar o bem-estar de um animal justifica o uso da planta”, detalha Erik Amazonas.

Recentemente, o assessor técnico jurídico do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), Rodrigo Montezuma, concedeu uma entrevista ao portal Sechat em que defende o uso da cannabis para os animais, mas orienta os profissionais para que busquem segurança jurídica para se protegerem quanto à prescrição.

“É preciso ser claro na descrição do problema para pedir na justiça o direito de conseguir a medicação, que legalmente está restrita a humanos”, detalha o assessor.

Como está o processo de regulamentação

O Projeto de Lei – PL 399/2015, que legaliza o cultivo para uso medicinal e industrial no país, prevê o uso humano, veterinário e até o cânhamo industrial, com diferenças de teor de THC. Para o uso veterinário somente abaixo de 1% de THC.

“Especificamente no âmbito veterinário, o PL peca bastante na limitação do uso de produtos contendo no máximo 0,3% de THC. Não há fundamentação científica ou clínica para essa porcentagem. Na experiência veterinária, a presença de THC numa proporção mínima de igualdade com o CBD, traz melhores resultados aos animais e tende a ter muito menos efeitos colaterais no início do tratamento. Esse limite de THC nas formulações impede a melhora do animal com câncer, artrite/osteoartrite e dores crônicas”, pontua Erik.

Em fevereiro de 2021, o deputado federal Bacelar (PODE/BA) apresentou o Projeto de Lei 369/2021, que trata da aplicação da cannabis e seus derivados na medicina veterinária. Contudo essa discussão no Congresso ainda é lenta e pouco expressiva.

Existe a Portaria 344 da Anvisa que confere aos profissionais inscritos nos Conselhos de Medicina, Medicina Veterinária e Odontologia a liberdade para prescrever substâncias controladas, entre elas os cannabinoides. Porém, as RDCs (Resoluções de Diretorias Colegiadas) da Anvisa limitam o uso de cannabinoides somente a pessoas.

Por isso o CFMV está pressionando a Anvisa para que altere essa resolução ampliando para os veterinário(a)s a possibilidade de prescrever cannabis na clínica dentro da legalidade.

“Tendo em vista que os efeitos terapêuticos da cannabis são extremamente relevantes e têm sido relatados benefícios inúmeros aos pacientes, a medicina veterinária também quer se valer desse tipo de substância para os seus pacientes”, reforça Montezuma do CFMV.

 

A medicina do futuro

“Eu costumo dizer a todos os estudantes e médicos veterinários que quem não entender a terapêutica canabinoide dentro dos próximos 5 a 10 anos estará fora do mercado clínico. Pessoalmente, espero que o futuro da Cannabis na veterinária seja absorvida pela medicina integrativa e medicina oriental/holística. Quando o veterinário associa a cannabis à acupuntura, moxabustão, fisioterapia, dietoterapia, os resultados são fenomenais.”, determina o professor Amazonas.

 

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