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Cannabis como aliada ao esporte

Como  atletas podem se beneficiar dos efeitos da planta

Quem um dia poderia imaginar que a cannabis estaria ligada ao mundo esportivo?

Uma planta que sempre foi associada a preguiça e moleza, se revela uma excelente aliada dos atletas.

Fato é que cannabis e esporte combinam demais entre si, pois ambos proporcionam melhora na qualidade de vida, equilíbrio e bem estar às pessoas.

Esse pauta chamou atenção do público no primeiro Congresso Brasileiro de Cannabis Medicinal, que aconteceu em São Paulo, no início de maio deste ano.

Médicos, empresários do setor cannabico, atletas amadores, profissionais, olímpicos e paraolímpicos, se reuniram para debater os avanços das pesquisas e compartilhar os benefícios que a planta proporciona,

Seja para melhorar a performance, combater os processos inflamatórios, lesões, insônia ou controlar a ansiedade e o estresse, é unânime que a cannabis chegou para ficar no meio esportivo, como mais uma ferramenta que auxilia o atleta.

Por que a cannabis funciona?

O que explica os benefícios da cannabis em diversos tratamentos é a presença do SEC

Descoberto ainda na década de 90 na Universidade Hebraica de Jerusalém, o SEC se revelou como o regente do corpo humano. Ele é responsável por promover o equilíbrio de todos os outros sistemas vitais.

Espalhado em todo o organismo, o SEC é composto por receptores cannabinnoides, produzidos pelo próprio corpo, chamados endocannabinoides.

As propriedades terapêuticas da cannabis estão presentes, principalmente, nos fitocanabinoides, nos terpenos e nos flavonoides da planta, que se conectam aos receptores CB1 e CB2.

O CB1 se concentra principalmente no sistema nervoso central e por isso, quando ativado pela cannabis, promove a homeostase das ações neurocomportamentais. O CB2 atua principalmente no sistema imunológico, regulando as respostas inflamatórias.

Como resultado dessa interação, que ocorre de forma orgânica, temos a homeostase das funções vitais como um todo.

Benefícios para atleta

As vantagens que o atleta alcança com o uso da planta tem se tornado um dos pilares das pesquisas sobre o uso medicinal da cannabis.

Dr Jimmy Fardin Rocha é um dos ortopedistas que estuda a fundo essa linha e foi convidados para palestrar sobre Cannabis e Esporte no Congresso.

Ele começou a usar a cannabis pessoalmente para controle da ansiedade. Como os resultados foram positivos, acabou se especializando no assunto e passou a prescrever  aos seus pacientes, entre eles, alguns atletas.

Os medicamentos que ele costumava indicar, anti-inflamatórios, analgésicos, opióides, aos poucos foi sendo substituída pelo uso quase que exclusivo dos produtos à base de cannabis. Ou seja, a planta funciona.

“A cannabis mostra que a dinâmica do corpo humano não é prática e direcionada, isso por conta do SEC, que é amplo e generalizado no corpo humano, por isso traz resultados em em diversos campos de atuação”, explica Dr Jimmy.

O que os atletas dizem sobre a Cannabis?

Tanto os atletas profissionais como os amadores, podem se beneficiar do uso da cannabis para melhorar seus treinamentos e consequentemente, a performance de seu desempenho.

A planta começou a ser utilizada no meio esportivo, principalmente indicada para dores musculares, lesões, crises de ansiedade e insônia.

“Pratico esporte desde muito novo e sempre em ritmo de alta performance voltado para competição. Isso gera um desgaste do corpo. No meu caso, foi fundamental para regeneração muscular, combater processos inflamatórios, fadiga e melhorar a qualidade do sono” compartilha Fernando Paternostro, atleta profissional e empresário.

Satisfeito com os resultados, Fernando criou no Brasil a primeira plataforma digital para informar sobre os benefícios da cannabis no meio esportivo, a página @atletacannabis.

Ao lado de outros atletas, entre eles Peu Guimarães, tem sido monitorado em seus treinamentos. Médicos e especialistas da saúde seguem protocolos para avaliar os resultados, medindo dosagem, composição das medicações, tipo de uso e frequência.

“Antes de começar a usar a cannabis eu chegava a acordar de hora em hora por causa de dores. Cinco dias depois que comecei a administrar o óleo, dormi seis horas seguidas. Foi restaurador. Desse momento em diante adotei a planta e sigo com ela”, relata Peu.

Outro nicho de atletas que segue aprovando o uso da cannabis são os paratletas, aqueles que têm algum grau de deficiência.

Susana Schnardorf, convidada a compartilhar sua história no Congresso de Cannabis Medicinal, é um exemplo. 

Uma nadadora olímpica brasileira que aos 37 anos foi diagnosticada com uma rara doença degenerativa chamada Atrofia dos Múltiplos Sistemas.

Depois de quase 10 anos de tratamento convencional, Susana resolveu apostar sua esperança no tratamento com Cannabis e sentiu uma diferença enorme na sua qualidade de vida. 

“A cannabis não vai curar a doença, mas ajuda a controlar o avanço e os sintomas. Hoje eu consigo dormir , tenho menos dor e crises de ansiedade. Pra mim melhorou tudo. Se eu fico um dia sem tomar eu já sinto diferença no meu corpo”, confessa.

Quais partes da cannabis são utilizadas?

As pesquisas com cannabis mostraram que a planta possui mais de 500 compostos químicos, que variam entre fitocannabinoides, terpenos e flavonoides.

Os estudos ainda se limitam principalmente aos fitocannabinoides: sendo o CBD e o THC os mais conhecidos e estudados. Mas, tanto os terpenos como os flavonoides, também têm poder terapêutico.

Os prescritores em geral reconhecem que os benefícios da planta são melhor aproveitados pelo corpo humano quando a cannabis é consumida de forma integral, ou seja, com todos os compostos químicos ali presentes e não de forma isolada.

Os produtos à base de cannabis, geralmente óleos, que são preparados com a planta como um todo são os chamados full spectrum. Ainda que se consiga dosar a quantidade do THC e do CBD, por exemplo, é a planta como um todo que promove uma ampla reação no organismo chamada de efeito comitiva. 

Por seu efeito psicoativo, o THC, é administrado em dosagens menores, porém a presença dele no tratamento é muito importante, pois ele provoca reações que intensificam o resultado.

“Quando usamos um produto integral da planta, mas com dosagens controladas entre THC e CBD o resultado final é surpreendente”, destaca Dr. Jimmy Rocha.

Variações do THC: Delta 8 e Delta 9

As pesquisas mais recentes quanto ao uso do THC apontam que a variação conhecida como Delta-8-THC apresenta efeitos terapêuticos importantes, porém com o efeito psicoativo reduzido, se comparado ao Delta-9-THC. Por isso, tem sido indicado.

Por ter uma estrutura molecular mais estável, o Delta-8-THC permanece no corpo por mais tempo, ou seja, o atleta consegue ter um efeito prolongado dos seus benefícios, como por exemplo alívio da dor, concentração e controle da ansiedade. 

Com esse combo de vantagens, o atleta consegue desempenhar um bom treino e com alto rendimento. Porém, é preciso estar atento. 

“Justamente por aliviar a dor e melhorar a concentração, o atleta pode acabar excedendo a intensidade do treino e se lesionar, por isso é muito importante acompanhar como a pessoa responde ao tratamento para chegar na composição e dosagem ideal”, reforça Dr. Jimmy.

A cannabis e os testes anti dopping

Não há como falar de competição sem pensar na questão do dopping. A canabis é uma planta que ainda é proibida e considerada uma droga perigosa em muitos países.

Porém, as conquistas legislativas para o uso da cannabis medicinal tem provocado pelo mundo, têm colocado a WADA (agência mundial anti-dopping) e as ligas esportivas para repensar esse posicionamento proibitivo.

Em 2018, a Wada reconheceu os benefícios medicinais e retirou apenas o CBD da lista de substâncias proibidas nos Jogos Olímpicos. Nas Olimpíadas de Tokyo, muitos atletas se posicionaram sobre o uso da cannabis como rotina. 

A NBA, uma das maiores organizações esportivas do mundo, liberou o uso da cannabis para seus atletas durante a pandemia, pois reconheceu que controla a ansiedade. Mas durante os jogos, permite somente o CBD.

O UFC, autoriza o uso do THC em pequenas quantidades, já que a substância auxilia na regulação dos neurotransmissores e como os atletas sofrem muitos golpes na cabeça, ele ajuda a evitar lesões profundas.

Os atletas profissionais que usam a cannabis de forma integral e controlada durante os treinos, quando chegam próximo do teste precisam abandonar o THC e usar o CBD isolado, mas essa troca provoca um desajuste e isso, muitas vezes, compromete o resultado.

“Existe uma expectativa de que a cannabis seja liberada pela WADA, pois a combinação THC + CBD é mais eficiente. Ao tempo que eles se complementam, eles se anulam e isso, promove o equilíbrio e controla o efeito psicoativo”, comenta Peu.

Qual a via de uso da cannabis?

A ingestão do óleo de cannabis é a forma mais indicada.
Os óleos podem ser do tipo:

Para uso tópico existem as pomadas e os cremes que são muito eficientes para regeneração muscular, principalmente pós treino.

Os gummies, balinhas com CBD, são uma nova aposta das empresas que produzem produtos à base de cannabis.

“Quando fazemos a transição do uso inalatório para o uso gástrico da medicação via oral conseguimos otimizar alguns pontos: o tipo da substância,  se é um óleo com mais THC ou CBD; o tempo de duração, que pode chegar até 12 horas e a dosificação, sabemos exatamente quantas gotas cada atleta está tomando para conseguir tal resultado”, explica Dr Pedro Mello, médico prescritor de cannabis e fundador da @clicnicacbdoctor e da @CBDSport.

A Cannabis não funciona sozinha e requer um tratamento individualizado

Ainda que a cannabis consiga tratar diversas doenças, ela não faz milagre. Quando se combinam outras técnicas terapêuticas os resultados são mais intensos e eficientes.

“O tratamento com a cannabis é uma oportunidade de mudar o estilo de vida. Exige dedicação e acompanhamento, mas os resultados são incríveis, tanto na parte física como mental. Eu abandonei uma série de analgésicos, anti-inflamatórios, suplementos que eu era dependente. Com uma boa nutrição, meditação, rotina de treinos e cannabis minha qualidade de vida mudou muito”, explica Fernando.

Seguir com um médico que acompanha cada evolução do paciente no tratamento é fundamental, afinal, cada pessoa tem uma resposta ao tipo de óleo, à dosagem, à frequência e à rotina. 

“Cada corpo vai metabolizar de uma maneira específica os cannabinoides. Os testes genéticos são uma alternativa que aponta qual a quantidade precisa de cada cannabinoide o atleta vai usar e como ele metaboliza. Isso possibilita, inclusive, saber quanto tempo antes da prova temos que mudar os cannabinoides para não cair no dopping”, revela Dr. Jimmy.

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Quais as perspectivas do mercado esportivo com a chegada da cannabis?

Conforme a legislação avança para regulamentar o uso da cannabis medicinal, o mercado aquece e se apresenta como enorme potencial para aqueles que decidem investir nesse setor. 

Sem dúvida, o uso voltado para o esporte está entre as tendências, pois os resultados são positivos, eficientes e seguros.

Segundo o relatório Cannabis e Esporte elaborado pela Kaya Mind, o Brasil apresenta um potencial com cerca de 827 mil atletas entre amadores, profissionais e eventuais. 

Esse número pode gerar o consumo anual de cerca de 2,7 toneladas de produtos à base de cannabis, ou seja, é um nicho considerável para movimentar a economia, recolher impostos e gerar trabalho e renda.

Para se ter uma ideia, o relatório aponta que esse mercado pode gerar uma receita anual de mais de 900 milhões de reais e uma arrecadação de impostos na ordem de 297 milhões.

Se revertido para fomentar a prática esportiva, que no caso do Brasil ainda é pouco estimulada, cresceria o número de atletas e consequentemente do mercado.

Algumas empresas já entenderam esse potencial e seguem investindo em pesquisa e na criação de produtos inovadores à base de cannabis.

Entre elas estão a Pangaia e a CBDoctors. Ambas acompanham e monitoram atletas profissionais, paratletas e amadores. 

“Começamos em 2021 quando nossos primeiros atletas em tratamento (Talisson Glock, Susana Schnarndorf e Roberto Alcalde) foram aos Jogos Paralímpicos de Tóquio.Com a liberação da WADA e a resposta incrível que eles tiveram com o tratamento na preparação, durante e pós Paralimpíada, entendemos que era preciso fortalecer este movimento da cannabis no esporte e surgiu o Time Pangaia. Hoje temos mais de 20 atletas”, conta Renan Miguel CEO da Pangaia.

Para se beneficiar dos efeitos da cannabis não é preciso ser um atleta profissional, qualquer pessoa que já pratica algum tipo de esporte, pode procurar um médico prescritor para melhorar e consequentemente estimular ainda mais a prática.

“Quando se fala em atividade física, a qualidade de vida está totalmente ligada a isso. A cannabis também. Então seja para dar mais ânimo ao treino, mais desempenho, mais concentração, menos ansiedade ou recuperação muscular, a cannabis entra como aliada e auxilia muito”, esclarece Dr Pedro Melo.

Nos estados norte americanos onde a regulamentação da cannabis está mais avançada, muitas marcas de produtos cannabicos estão patrocinando atletas que se posicionaram a favor da planta e fazendo parceria com ligas esportivas que liberam o uso do CBD.

O relatório da Kaya Mind demonstra que são mais de 200 atletas considerados porta-vozes da cannabis e estão espalhados em diferentes categorias: basquete, luta, natação, surf, skate, futebol, sendo que 70% estão ativos nas competições fazendo uso da planta.

Esse dado reforça que a cannabis para fins esportivos está em franca ascensão e por isso, a tendência é ganhar mais adeptos e ampliar o mercado.

O momento agora pede aos profissionais de saúde para atualizar o conhecimento com cursos de especialização, para as empresas de investir em pesquisa e produtos e para todos de se informar para transformar a realidade preconceituosa em torno de uma planta, que tem tantos benefícios a oferecer para a humanidade.

 

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