Introdução:
Os concentrados de cannabis, chamados de haxixe, hash, hax, que contam com um passado milenar de extração, também podem configurar uma nova forma de se fazer uso da cannabis como via de tratamentos. Na medicina cannabica a prescrição dos óleos são de fato os mais indicados, porém a planta é diversa na sua forma de uso.
Saber o que são esses concentrados e suas formas de extração e purificação ampliam nosso conhecimento sobre as possibilidades de consumo da planta com benefícios comprovados.
Nosso diretor de cultivo especialista em produção e extração de cannabis, @nicomalazartes, produziu um artigo repleto de informações preciosas e precisas sobre os concentrados.
Se você, assim como nós, é um admirador das possibilidades de consumo e dos resultados que essa planta nos oferece, clica no link da bia na aba notícias e fique por dentro desse universo.
Extrair, coletar, concentrar e purificar: Que são concentrados de cannabis, e até que ponto purificar é melhorar?
Artigo
Por: Pedro Nicoletti Motta – @nicomalazartes
HASH
Extrair a resina oleosa em que nadam os principais princípios ativos da cannabis é uma tradição milenar, mas que atualmente ganhou ciência nova, de conceitos rebuscados. Amber Glass, Shatter, wax, budder, sugar, rosin, hash oil, e até o famigerado mas pouco conceituado RSO, são algumas confusas definições em que esbarramos quando falamos de concentrados de cannabis. Quero tratar de simplificar esse admirável novo mundo, em essência.
Genericamente falando, todo o produto originado do processo da separação das “cabeças” do tricomas glandulares das demais partes vegetais a partir das flores femininas da cannabis pode ser entendido como haxixe (ou hax, hash, hashish, entre outras grafias…), que é o conceito ancestral para o concentrado de resina. Normalmente o haxixe é sólido, ou ainda cremoso se for muito puro, mas se o produto for oleoso será melhor definido como óleo de haxixe. Qualquer extracto da cannabis seja qual for sua cor, consistência, ou formato, será haxixe, ou óleo de haxixe. Isso é o primeiro a entender.
A definição do conceito haxixe poderia ser: um concentrado do conjunto de compostos mais farmacologicamente ativos da planta da cannabis extraídos e separados de suas contra partes vegetais sem muita importância farmacológica.
EXTRAIR
Em resumo, extrair haxixe é tão simples que os nossos ancestrais o faziam de maneira muito sensível e rudimentar: esfregando as mãos com a superfície resinosa das flores femininas. Depois de um tempo, a resina que adere à pele é espessa o suficiente para formar uma bola sólida auto aderente ao esfregar as mãos.
Felizmente para nós, essas cabeças estão fora da superfície da planta, penduradas por um caule frágil. O que torna realmente simples o processo de coleta, já que não é necessário entrar dentro das estruturas vegetais para retirar o que nos interessa. Se compararmos os tricomas com os frutos maduros de uma árvore, uma boa sacudida é o suficiente para que esses frutos caiam e junto eles folhas secas, pedaços de galhos, alguns insetos, entre outras “impurezas”.
CAMINHOS DISTINTOS QUE LEVAM AO MESMO LUGAR
O processo de produzir haxixe vem desde antiguidade e significa quebrar e separar os “frutos“ (tricomas) das impurezas vegetais que os acompanham. Quanto mais puro o haxixe, menor a proporção de impurezas em comparação com as cabeças de tricomas (ou frutos, para seguir a metáfora) no produto final.
Atualmente a definição se mantém a mesma, mas os caminhos para chegar a esse ponto se diversificaram muito, adquirindo maior precisão. Isso naturalmente produziu mudanças no estado final do produto que passou a ser mais puro, mais claro, e mais oleoso. Foi nos últimos 15 anos que aprendimos a dissolver a casca do fruto e diluir todos os compostos de seu interior em um solvente volátil, que depois de separado das partes vegetais e evaporado nos deixa com um purê de compostos cannabinoides e terpenóides. E foi de 10 anos para cá que aprendemos a exprimir os frutos com tanta pressão e algum calor que fazem com que o fruto exploda expulsando toda a polpa através da vegetação retida e filtrada por uma tela.
CONCENTRAR
A descrição anterior se refere aos processos de extração por BHO, (para dar um exemplo) e de extração por ROSIN. Duas técnicas diferentes, que chegam essencialmente ao mesmo lugar, mas que no caminho fazem com que o produto seja ligeiramente distinto, principalmente no aspecto final. O concentrado de cannabis sempre será uma combinação de cannabinoides e terpenos, a maior diferenciação se faz pela pureza que o produto alcança: ou seja, a proporção dos cannabinoides e terpenoides frente a outros elementos indesejáveis como partes vegetais e clorofila.
Os concentrados afinal de contas são concentrados de cannabinoides, e podemos por nessa categoria qualquer produto que alcance maiores concentrações maiores do que o que a flor pode chegar naturalmente. Dessa forma qualquer produto que chegue a concentrações maiores que 30 ou 40% em THC, ou outros cannabinoides, será um concentrado.
A diferença mais significativa então, sobretudo para as pessoas que buscam um efeito mais farmacológico que uma experiência organoléptica (pacientes, por exemplo), é a proporção dos elementos cannabinoides frente ao resto de elementos, que faz com que um concentrado seja mais ou menos potente. Preferencialmente os concentrados desejáveis então teriam uma concentração de mais de 80% de cannabinoides e terpenoides frente ao resto. Ainda que uma concentração inferior não necessariamente tira mérito do produto, mas obriga o usuário a tomar maiores quantidades pra chegar no mesmo efeito.
PURIFICAR
A pureza chega até um nível de concentração natural máxima naquela sopa de compostos benéficos de cannabinoides e terpenoides que vem do processo de extração que começa com a flor. Para chegar a concentrações maiores de algum tipo de elemento específico seria necessário começar a separar esses elementos, agora a partir do concentrado extraído, para chegar a pureza de algum elemento específico, por exemplo o CBD.
Entram em cena técnicas que purificam os extratos, como a destilação fracionada e a recristalização, que podem ser sequenciadas de forma que se separe todo o resto de terpenos e outros canabinoides para chegar ao CBD puro, em concentrações superiores a 99%. Normalmente técnicas mais exigentes em termos de equipamentos e expertise.
Isso pode parecer bom visto de alguns ângulos, e foi objetivo de laboratoristas por muito tempo, mas no final o que a ciência tem mostrado é que os cannabinoides agem melhor no nosso organismo em parceria com outros elementos, como os terpenos. THC ou CBD isolados não são super-heróis, são capitães de uma tripulação biologicamente sincronizada. Sem os quais o barco não navega tão bem. Separar e purificar ao máximo finalmente começou a perder relevância. O que mostra que a concentração de cannabinoides tem um limite: o natural.
Portanto, o limite para a purificação não é apenas poético-hipotético, mas também físico-material: o que tem dentro da cutícula fina que protege a cabeça do tricoma é o essencial. O exterior, indesejável, mas em alguma medida também, tolerável.
A COMITIVA NATURAL E A RECOMBINADA
Algumas pessoas defendem que mesmo após separar os compostos da planta é possível recombinar os elementos que se separaram. Mas, ao contrário de um barco feito pelo homem, a embarcação natural é uma combinação complexa, única e coerente. Produto de uma bioquímica que mistura genética e condições ambientais, que pode se ajustar de forma mais ou menos efetiva a um paciente. Isso é a base da busca de variedades ou cepas de cannabis para certos tipos de padecimentos ou condições, pela capacidade de geração de diferentes combinações de elementos.
Esse processo contrasta com uma recombinação arbitrária, organizada a partir de alguma ideia do humana do que pode ser mais efetivo. Assim como as plantas de cannabis, os humanos que usam a planta e são feitos de combinações únicas, consumindo outro grupo de combinações únicas. Então, no final das contas, até que ponto a uniformidade, homogeneidade e padronização são realmente boas? Ou a quem interessa que esses componentes estejam isolados?
As empresas farmacêuticas e a grande indústria defendem os compostos isolados. A matemática financeira produtiva/logística e a distribuição em massa, o exigem quase como o único parâmetro necessário, e é assim que os meios de comunicação de massa apresentam o debate.
Se você faz uso de algum medicamento é sua responsabilidade entender esse produto. Os profissionais te orientam a encontrar um caminho adequado. Mas, no final, você é responsável pelo seu próprio consumo e por sua saúde. Portanto, quando se trata de consumir concentrados a opção é sua: focar na busca por um desempenho único, ou usar um único desempenho.
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