O que o consumidor pode esperar e quais as vantagens para a economia
Em termos botânicos, o lúpulo e a cannabis são considerados primos, por isso, agregar cannabis na fórmula de produção de cerveja é uma combinação bem interessante e pode render milhões a quem ousar investir nesse mercado.
Frente aos processos de legalização que estão ocorrendo em diversos países do mundo, o mercado de alimentos e bebidas com derivados de maconha é um potencial em franca expansão.
Para se ter uma ideia, o setor de alimentos e bebidas no Brasil teve um crescimento de 17% no ano passado e faturou mais de 920 milhões de reais.
A cerveja é a bebida alcoólica mais vendida no Brasil e bateu recorde de consumo em 2021, foram 14 bilhões de litros, o que corresponde a um crescimento de 13% se comparado a 2019, quando não se tinha pandemia.
Diante desse cenário, em que a legalização avança mundo afora e que a indústria de alimentos e bebidas vem crescendo, inclusive no Brasil, as empresas que investirem agora na criação de produtos de comer e beber com derivados de maconha terão grandes vantagens.
Segundo o portal de notícias da TheGreenHub, somente nos EUA, onde já existem estados que permitem o consumo da cannabis:
“a BDS Analytics, empresa de pesquisa de mercado, estima que o setor de alimentos e bebidas com presença de cannabis chegará a US$ 5,9 bilhões até 2024. Isso representa um aumento de US$ 906 milhões em vendas projetadas em 2019, com US$ 560 milhões, ou cerca de 62%, provenientes de dispensários, segundo a vice-presidente sênior de desenvolvimento comercial da BDS Analytics”.
Fato é que produtos derivados de cannabis, seja na sua forma medicinal, em alimentos, bebidas, têxtil e diversas outras modalidades tem se mostrado como uma forte e rentável tendência de mercado.
Para saber mais sobre as cervejas de cannabis conversamos com Bohumil Bartonicek, Sommelier de Cervejas e Mestre Cervejeiro pelo ICB (Instituto da Cerveja Brasil e Universidade de Weihenstephan na Alemanha).
Atualmente ele é Head Food and Beverages do Grupo Maeté, que desenvolve pesquisas e inovação em produtos de cannabis.
ENTREVISTA:
1) Como é feita uma cerveja de cannabis/cânhamo?
A primeira cervejaria profissional foi fundada em 1040 na Baviera (Alemanha). Apesar do método de preparação não ter mudado muito de lá para cá, foi somente nos últimos anos, com muito empenho e tecnologia, que chegamos a um resultado bem satisfatório do uso da cannabis ou cânhamo nas cervejas.
O processo de uma cerveja de cannabis é similar ao procedimento de fabricação de uma cerveja comum. Passando pelas etapas de Malteação da cevada, Brasagem, Filtragem, Fervura, Resfriamento, Fermentação, Maturação, Dry Hopping e Envasamento.
Devemos entender o que queremos extrair e obter da cannabis. Desejo o THC (substância psicoativa)? Quero o CBD (propriedades medicamentosas)? Quero sua proteína? Quero somente o aroma e o sabor da cannabis?
Uma vez com essas respostas é que se começa o processo industrial do seu estilo favorito. Mas sempre respeitando a ordem citada no início.
Ao optar somente pelos aromas da cannabis podemos fazer pequenas alterações no processo de Dry Hopping.
Caso o intuito seja a melhoria na carga proteica, então modificamos o processo de brasagem.
Terpenos, THC e CBD são adicionadas ao final do processo produtivo (maturação).
O importante é atingir o sensorial equilibrado para cada estilo de cerveja, afinal ela tem que ser deliciosa.
2) Quais tipos de substâncias da cannabis/cânhamo são usadas?
Podem ser adicionados THC, CBD, terpenos, proteínas e fibras.
Cada ingrediente deve ser adicionado na quantidade certa e na etapa correta do processo produtivo, conforme o resultado e efeito que se busca.
Por exemplo, pode-se usar THC em cervejas sem álcool para brincar com os efeitos inebriantes e sem dor de cabeça;
Pode-se fazer a infusão de canabidiol (CBD) com todas as suas propriedades terapêuticas e relaxantes.
As proteínas deixam a cerveja mais funcional e saudável.
Os terpenos exaltam os aromas e sabores cannabicos, deixando os sentidos mais aflorados.
Vale lembrar que as bebidas com THC e CBD ainda não são permitidas em território brasileiro.
É comum na indústria da cannabis que as bebidas e os alimentos contenham apenas micro doses de substâncias da planta. Algo em torno de 2 a 10 mg de THC por porção, por exemplo. Assim o consumo pode ser controlado e prolongado.
Devemos lembrar que beber é uma ferramenta social e o importante é se divertir com responsabilidade.
3) É possível ficar chapado de maconha e álcool ao mesmo tempo consumindo esse tipo de cerveja?
Não. Peguemos como base os Estados Unidos, que é hoje, o país com o mercado de cannabis mais desenvolvido no mundo.
Segundo sua legislação, o uso de álcool misturado com THC (substância psicoativa que deixa chapado) não é autorizado, fazendo com que todas as cervejas que possuem THC não levem álcool em sua formulação.
Acreditamos que devemos começar por esse mesmo modelo aqui no Brasil.
Mas antes da liberação de THC, estamos confiantes na liberação do cânhamo industrial, assim será muito mais fácil encontrar uma cerveja alcoólica, somente com os aromas e sabores da cannabis. Ou seja, sem THC ou CBD, mas com aromas e sabores cannabicos.
Lembrando sempre: beba com moderação!
4) Além da cerveja, que outras bebidas podem ser produzidas tendo cannabis na fórmula?
Tem uma gama muito diversa de bebidas com cannabis que já existem mundo afora.
Diferentes tipos de águas saborizadas, gasosas e ricas em sais minerais, refrigerantes, sucos, tônicos, aperitivos, bebidas proteicas para pré-treino, bebidas relaxantes para pós treino, chás de infusão e energy drinks.
Os mais exóticos que eu já vi foram os vinhos e o café.
Na verdade o limite é a imaginação de quem produz.
Toda e qualquer bebida pode ser adicionada a aromas, sabores ou as propriedades da cannabis.
O importante é sempre estar de olho na legislação de cada país.
5) Qual a perspectiva econômica para esse mercado?
A Cerveja é a bebida alcoólica mais consumida no país. Atualmente o Brasil consome cerca de 141 milhões de HL, ou seja mais de 14 Bilhões de litros.
Estamos em terceiro lugar no consumo mundial, atrás somente da China e dos EUA.
O mercado de Food & Beverages cresceu em torno de 40 % desde 2019, quando começaram as liberações de cannabis pelo mundo e ainda tem muito que crescer.
O Brasil está perdendo uma grande revolução. A Revolução Verde.
O mercado de cerveja sem álcool cresce na ordem de 7 % anualmente. A cada dia que passa o consumidor quer novidades e o mercado das cervejas artesanais não pára de crescer.
A cerveja terpenadas ou com cannabis se enquadram bem em todo esse crescimento. Sem dúvidas, é um mercado bilionário e em alto crescimento em todo o mundo.
6) As empresas brasileiras já estão se preparando para lançar esses produtos no mercado?
Já tem muita empresa olhando para esse mercado.
Temos empresas multinacionais com forte presença aqui no brasil, como a IN-BEV e a própria Heineken, ambas com produtos desenvolvidos por outras partes do mundo.
Elas estão só esperando para começar a explorar e lucrar com esse mercado bilionário.
No Brasil já estão surgindo as cervejas terpenadas, com os aromas e sabores de cannabis.
7) Vocês estão desenvolvendo terpenos exclusivos para produção de cerveja, como é isso?
Todo terpeno pode ser adicionado na produção de cerveja.
Como já tivemos uma cervejaria artesanal e desenvolvemos fórmulas com óleos essenciais (na época utilizamos melão ) vimos como é difícil e sensível dosar produtos concentrados.
Nosso maior desafio e inovação foi justamente preparar os terpenos para ficarem mais fácil de serem adicionados no tanque de maturação.
Parece simples, porém os terpenos se degradam com facilidade por oxidação e temperatura.
Nossa tecnologia permite a formulação de um terpeno estável, fácil de usar e com custo acessível.
valeu.
Será que esses produtos são viciantes igual a cerveja comum? Pode trazer outro tipo de problema para a saúde da população.
Olá Natalício. Os efeitos prejudiciais do álcool são bastante conhecidos no caso da associação com a cannabis eles continuam sendo prejudiciais da mesma maneira. Porém em relação a parte da cannabis já sabemos que é uma planta de baixíssima toxicidade e poucos efeitos colaterais. Portanto, em relação aos produtos alcoólicos associados aos cannabinoides é importante manter os mesmos cuidados necessários ao uso do álcool.